Mãe de todos
Instinto materno faz cadelas adotarem até bichos de outras espécies

Coração de mãe é assim: sempre cabe mais um. Mesmo que seja de outra espécie – notoriamente inimiga. Fêmeas de qualquer espécie, principalmente entre carnívoros, animais que dependem da mãe até desmamar, podem ter esse instinto subitamente desperto por duas razões: estimulação hormonal ou circunstancial, como a presença de órfãos que precisam de cuidados.

“Provavelmente, a pseudogestação em cadelas é um reflexo atávico de suas ancestrais, as lobas. Na matilha, quando a loba dominante tem uma ninhada, as outras entram em gravidez psicológica para amamentar e cuidar dos filhotes da líder enquanto ela volta a caçar e a fazer a guarda do grupo”, explica a veterinária Silvia Crusco, especializada em reprodução animal.

Em cadelas, a gravidez psicológica ocorre em torno de uma média (período de uma gestação real) e cessa sozinha, com a queda natural na produção de hormônios. Os sintomas são dilatação do abdômen, produção de leite e falta de apetite. Elas também se tornam sonolentas e chorosas.”É comum a reincidência. Normalmente, a solução é a castração, pois, com a pseudogestação, há o risco do desenvolvimento de inflamações de mama e transtornos de comportamento”, afirma Rúbia Burnier, veterinária e terapeuta comportamental.

Sabe-se que a presença da prolactina, hormônio responsável pela produção de leite, é o que determina o instinto materno. Porém, de acordo com Silvia, não há comprovação científica de que fêmeas mais predispostas a serem mães (verdadeiras ou adotivas) apresentam índice mais elevado da substância.

Talvez mais surpreendente do que a adoção de ninhadas de outras espécies seja o leite canino “funcionar” para gatos. Na verdade, ele serve apenas para manter a sobrevivência. “Como fonte de alimento é aceitável, mas a composição não é adequada. Os Anticorpos do cão presentes no leite maternos não serão aproveitados pelo gato”, explica Rúbia.

Provavelmente, no futuro, esses gatos terão a imunidade reduzida. Por outro lado, a relação deles com os cachorros será bem mais amigável.

REVISTA da folha
Déborah Giannini